Meu chapéu e pito de palhas,
Nessa fala desalfabetizada,
Meu ser tão feito de falhas
Em minha vida de estrada...
De terra e de chão batidos,
Com vários tons marrons.
Minhas aves, sons ouvidos
No além de seus néons...
Minha casa que foi cabana,
Meu paiol era esconderijo
Do meu sonho de bacana:
Casa na cidade e prestígio.
Matuto que era sempre feliz,
Eu que não sabia, me asfaltei.
Tenho a vida que jamais quis,
Sofro, pois aquilo eu troquei.
Troquei cacimba por torneira,
Vaga-lume por inseticida,
Filtro de barro por geladeira,
Meu campo por bala perdida.
Pôr do sol por engarrafamento,
Arrebol pelo cartão de ponto,
Estrelas por esse céu cinzento,
Aqui tudo já está feito e pronto.
Arrependido nesta selva de aço,
Não me sei num monte de gente
Que corrompe pelo meu fracasso,
Em vez de pessoa sou concorrente.
Voltar? Já estou infectado de dor,
Aspirei a fumaça desses motores,
Com excesso o tempo já se passou
E meu sertão não tem mais cores.
Meu cerrado não é o de outrora,
Sobrevivo em meio ao caos frio
Da selva de concreto de agora.
Que saudade tenho daquele rio.
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