ESSE NEGÓCIO DE COLHEITA FELIZ É UMA DESGRAÇA, DEVIA SE CHAMAR COLHEITA MALDITA...

FIQUE À VONTADE...A CASA É SUA!!!

Escreveremos sobre o quê? Quais assuntos serão abordados nesse espaço?
Faremos cumprir o fim destinado a um meio de comunicação? Comunicar.
Como será a aceitação dos chegados, dos distantes, dos incógnitos?
QQCACHA?
Esse é o seu ambiente, não se sinta acanhado em comentar, opinar ou criticar.
Não recriminamos comentários ou rejeitamos juízos. Sinta se livre.
Grato pelo seu comparecimento.
Sofista Pirateado

08 setembro 2009

Quando conheci meu genro

Isso aí...




   Ele me pedia algo. Quase estava arrancando a garganta dele. O coitado tentava dizer alguma coisa, mas um negócio que ele tinha na língua prendeu no aparelho de borrachinhas roxas. Pensei em arroxear-lhe os olhos, mas já estavam escuros feito os de um vigia noturno que durante o dia complementa o orçamento dando uma de frentista.

   Um molecote que nem saiu dos calções. Um viciadinho de olho vermelho, colírio na algibeira, parecido com um corvo, todo de preto, na camisa uma estampa desenhando um símbolo satânico em vermelho, mostrando os punhos carregados de braceletes prateados e pontiagudos. Isso aí está na minha casa com aquele cabelo no olho feito capacete balístico, todo cheio de metal nas cartilagens, conversando num dialeto desconhecido, com uns modos próprios e desajeitados:

   __E aê como é que tá essa seqüência aê?

   __Pô... véi... da hora, botei firmeza!

   __Toca aê!!!

   Toquei lhe um empurrão, afastando o infeliz de perto da minha menininha, toda inofensiva no seu mundinho juvenil, coitada, inexperiente, ingênua, inocente, indefesa nas garras de um psicoadolescente que dorme com os fones nos ouvidos e com uma mão dentro da calça. Um revoltado de plantão que passa horas em lanhouses comendo chips e fumando maços de tabaco, falando sobre um mundo que só existe na sua cabeça. Um meninão metido a homem sem argumentos e sem opinião.

   Ela chorava pedia para que o soltasse, dizia que era preconceituoso, tirano, déspota, comunista, ditador, retrógrado. Ela não sabe o que é o comunismo, tamanha ingenuidade.

   Uma criancinha tem treze anos e finge ter quinze, tem um diário em que ainda escreve tudo, uma boneca, uma bicicleta pequena, uma coleção de papéis de carta, um conjunto de giz de cera, uma melhor amiga, um gatinho que toca numa banda, boca cheirando a chiclete, dentes de leite, voz de criança, corpo de criança, cabeça de criança. Meu Deus ela é uma criança.

   Confesso que ultimamente ela tem andado um pouco deprimida, mas acho que é saudades da mãe que nos deixou faz tempo. Desde então tenho cuidado dela e a tenho tratado como uma princesinha cercada de todos os desejos e mimos que nenhum pai ousaria dispensar. Eu defenderia meu bebezinho de qualquer um que se aproximasse para tentar se aproveitar de um minuto de fraqueza que fosse.

   O moleque jorrava sangue, tinha rasgado a ponta da língua. Apiedei-me do infeliz e o soltei. Acalmei-me um pouco, pensei nas conseqüências de agredir uma criança, nunca faria isso intencionalmente, mesmo sendo esse frangote fantasiado de drácula. Pensei no meu anjo que estava para ter um ataque diante daquela cena, mas eu estava incontrolável e fora de mim. Tomei um pouco de água com açúcar, peguei a caixa de primeiros socorros e entreguei ao projeto de gente, lançando lhe um olhar intimidante. O moleque era tão cabeça de ovo que estava bebendo o mertiolato e enfaixando a língua quase engasgando com a gaze.

   Dei um tempo na vida naquele instante, deixei o garoto na sala e fui fumar um cigarro para acalmar-me mais um pouco. Passado o estado de emoção intensa, refletindo sobre as quantas anda este mundo, como evolui célere, como nos traga velozmente para um emaranhado de novidades que não passam de dados repaginados. Percebi que não terá jeito, sempre vai ser assim. É tudo como no passado, só muda o invólucro, o continente, o conteúdo será sempre o mesmo. Gostamos de como somos, queríamos que os outros fossem iguais a nós, e eles são, só que fingem ser diferentes, como nós fingimos.

   Autorizei o agora conhecido língua de serpente a namorar minha princesinha, não sem todas aquelas condições e ameaças de praxe que todo pai vocifera. Deram-me um netinho lindo, moram no fundo de minha casa, ele não trabalha todos os dias, mas trabalha...Cerco de mimos carinhos e afagos todos os três que agora são minha família e defenderia a todos se necessário fosse com minhas forças.

2 comentários:

  1. Legal a cronipoesia!
    Embora o desfecho tenhas sido um tanto brusco, o cerne é du caralho, mas só tangível pelos bem munidos de auto critica.
    Continue mandano bem.

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  2. CRONIPOESIA É MASSA.VLW LÉO...VC É UM DOS POUCOS MUNIDOS DE AUTOCRÍTICA, NÃO É COMO OS ANABOLIZADOS DOTADOS DE MICROCEFALIA GENERALIZADA...TAMOS AÍ...ABRAÇOS.

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