ESSE NEGÓCIO DE COLHEITA FELIZ É UMA DESGRAÇA, DEVIA SE CHAMAR COLHEITA MALDITA...

FIQUE À VONTADE...A CASA É SUA!!!

Escreveremos sobre o quê? Quais assuntos serão abordados nesse espaço?
Faremos cumprir o fim destinado a um meio de comunicação? Comunicar.
Como será a aceitação dos chegados, dos distantes, dos incógnitos?
QQCACHA?
Esse é o seu ambiente, não se sinta acanhado em comentar, opinar ou criticar.
Não recriminamos comentários ou rejeitamos juízos. Sinta se livre.
Grato pelo seu comparecimento.
Sofista Pirateado

30 setembro 2009


   Em sua 12º edição, vários espetáculos de níveis superlativos, ao ar livre, diante de um dos postais mais conhecidos e visitados de Brasília aconteceria o Porão do Rock. Enquanto muitos estavam desassossegados com a realização do episódio em um lugar aberto ao público, questionando acerca da segurança do local, eu só me preocupava com a diversão e a forma como seria administrada mais essa aventura. Nas seis vezes anteriores em que fui tudo ocorreu conforme o imaginado e nada saiu fora da anormalidade que é sair de casa sem dinheiro, pegar carona, sobreviver dois dias (alguns eram três) sem água, banho, cama, café... Enfim eu iria a mais essa campanha.
   Tudo combinado, Unaí estaria representado por nós naqueles dias de muita música, álcool, sementes, Mary Jane e outras cocitas más. Eu levaria uma barraca dessa vez e na minha visão apressada não lidaria com o frio. Não só resfriei como dormi com os pés na água. Enquanto alguns optaram por ir mais tarde, quase no último ônibus; uns foram de carona na madrugada com parentes ou amigos; alguns outros, fanáticos por chapação no Distrito Federal foram além e partiram um dia antes de montarem os palcos unicamente para encher a cara e jogar sinuca em algum copo sujo de Taguatinga. Eu iria de carona como nos anos passados. Fui para a rodovia as seis e trinta na esperança de até meio dia estar embarcado em algo com sentido ao Planalto Central, dez horas em ponto estava eu trocando idéia com um sujeito que há muito não via, ele reconhecera meu desespero e não hesitou em salvar-me do temporal que estava prestes a cair. Como nada é de graça, nada mesmo, ao chegar a um ponto da rodovia (posto do Pedrão), o sujeito bondoso que me livrou da tempestade e da agonia da espera solicitou-me uma mãozinha para descer dois pneus gigantescos que estavam na carroceria, quase fui esmagado, mas deu tudo certo. Depois de pegar mais uma carona da rodovia ao centro de São Sebastião, estava eu em um restaurante comunitário fazendo o que seria a minha única refeição decente nesses dois dias e duas noites. Encontrei-me com dois amigos e agora estava realmente confirmado: eu estaria em mais uma edição de um dos maiores festivais de música do Brasil.
   Cheguei tirando onda, pagando uma de maluco, armando a primeira barraca do festival bem lá no meio. Logo foram chegando os malucos do entorno com suas misturas mirabolantes de gaseificado com destilado naquele gingado único, inigualável:
   ___Tu vai acampar aí mermo véi? Cuidado com o arrastão mermão. Folgado.
   Disse pro maluco que num dava nada, mas fiquei cabreiro com esse tal de arrastão. Prontamente veio a polícia sempre atuante pedir-me que deslocasse a barraca para uma área de segurança atrás de uma proteção que havia por ali dividindo a muvuca que se concentrava próximo ao palco. Essa não foi a última vez que mudamos o acampamento.
   Em poucos minutos estávamos todos reunidos, a gang do noroeste mineiro representada ali pelos seus mais pictóricos personagens. Não se faz mister relaciona-los nominalmente aqui visto que quem foi viu e quem não foi ficou aqui para assistir os violeiros que se apresentariam na praça da prefeitura naquele mesmo dia. Sem contratempos, a não ser um ou outro que desapareceu para ir curtir todos os ambientes, tirar o maior número de fotografias de seus ídolos ou só uma fotinha da Catedral mesmo com seus Ministérios ao fundo. Turista é sempre turista.
   Com toda sinceridade digo que nessa minha aventura não estava incluído nenhum pacote de tietagem, das atrações que eu ansiosamente (sem alarde) aguardava cito: Sepultura, Angra, Cachorro Grande; Já tinha ouvido algo dessas três bandas e estava curioso por saber como é estar em um show deles. Muitas outras bandas se apresentaram. Tantas que mesmo a quem quisesse seria impossível acompanhar simultaneamente os espetáculos nos dois palcos. Essas apresentações foram no sábado, ainda haveria mais um dia cheio de maravilhas por aí.
   Continuando a narrar meu diarinho de bordo tenho que ressaltar alguns acontecimentos que se sucederam nesse ínterim de sábado para domingo: a semente brotou em nosso estômago e a loucura veio à tona juntamente com náuseas, flatulência, diarréia somando á isso uma ingestão significante de destilado com guaraná e algumas latinhas de antarctica, barriga vazia, ou cheia de algum engasga gato da rodoviária ou daqueles cachorros “quentes” da praça de alimentação do povo que havia ali do lado. Ainda bem que existe Vigilância Sanitária, imagina?
   Agora já é domingo e o dia hoje promete pelo menos para quem conseguiu sobreviver ao pandemônio underground que fora a noite anterior. Eu sobrevivi, estava lá acordando às 10 horas de fronte ao teatro municipal e um museu (itinerante creio) que se sustentava por ali. Uma repórter e um fotógrafo aproximaram se de nosso acampamento iniciando assim uma série de inquirições. Tais questionamentos fariam parte de matéria de um jornal local (Tribuna de Brasília). Depois de falar com a imprensa começava a diversão em mais um dia memorável.
   Recordar é viver. Já dizia não sei quem, mas é isso aí. O domingo contaria somente com atrações de Brasília, maioria das quais eu ouvia muito quando adolescente, a expor: Paralamas do Sucesso, Plebe Rude, Raimundos... Alem de outras que conheci há pouco tempo, mas que preservo uma estima sonora pela qualidade artística, como: Detrito Federal, Kanela Seka, Cabeloduro, Rafael Cury e Móveis Coloniais. Se não cito todas as bandas é porque realmente eu não as conheço. Talvez por ignorância mesmo. Mas a grande surpresa ainda estaria por vir, nem tudo aconteceu nesse passeio musical, aconteceria ainda naquele domingo o resgate honroso de uma marca melodiosa perturbadora dos anos oitenta. Estaria ali naquele palco os burgueses revolucionários da Legião Urbana, ícone do rock nacional. Dado e Bonfas tocaram e emocionaram milhares de pessoas mais uma vez. Dessa vez Renato não estaria de corpo presente, mas estaria incorporado nos gritos de delírio da galera ao verem André Gonzales (Móveis Coloniais de Acaju) cantar Tempo Perdido numa atmosfera de nostalgia e tristeza mesclada com a mais pura saudade. Ainda tocaram mais cinco músicas com os vocalistas e fãs de Renato: Herbert Vianna (Ainda é cedo), Philippe Seabra (Geração Coca-Cola), Toni Platão (Eu sei) e os uruguaios Sebastian Teysera (Quase sem querer) e Juan Casanova (Será). Um momento único, inenarrável, imensurável e todas as outras palavras difíceis que definem o mágico e indescritível. Eu estava lá, eu vi, eu fui.
   É hora de voltar pra casa. E como todo bom aventureiro do mesmo jeito que foi volta: mais uma vez na rodovia pedindo carona, mais uma vez um temporal, mais uma vez um salvador providencial me leva pra casa... Mas como nada é de graça... Nada mesmo...

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